choro e lamento
já fui forte
hoje o não sou
mas
não me conformo
em terra de ladrões
choro
porque há quem em segredo
chore da alma
com o rosto erguido e a face calma
porque este mundo é bárbaro
bruta fera em covil grosseiro
vento agreste a arranhar pele de cordeiro
porque os governantes são feitos de pedra dura
que nenhuma compaixão perfura
imunes à dor na carranca disfarçada
porque há crianças que morrem de fome
porque há mulheres que morrem de amor
e homens que morrem de dor
porque há mulheres maltratadas
escravas violadas
e crianças abusadas
porque há homens a sofrer
o pão que outros comem e
que eles haviam de comer
porque há guerras que matam
estropiam e decepam
os que com ela nada têm a ver
porque há tocas de oiro para os prestigiosos
fortes e poderosos
e para os oprimidos masmorras
porque há os que morrem de saudade
num quarto de solidão da cidade
e são encontrados a apodrecer
porque há crianças que morrem sem ter brincado
sem ter reinado
sem um único sorriso
porque há irmãos crucificados
na justiça cruel e sem siso
por crimes por outros cometidos
porque há tristeza e ansiedade
há melancolia depressão e agonia
em gente miserável do dia-a-dia
porque há quem noite e dia chore
e veja na cova funda
seu maior consolo e alegria
porque há poetas mortos
que me dizem a chorar –
ama e não queiras o mundo mudar
porque no meio de tanto pecador
tanto culpado
tanto criminoso
também eu o sou
por consentir no pecado
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