escrevo-te hoje
esta carta de amor
poderia tê-la escrito há anos
ou no porvir
ardem flores no olival
cai um santo do pedestal
(cai sempre um santo do altar quando um louco fala de amor)
passam garotos e remendões sem que saibam o que faço
eu também não escrevo
são voltas do aparo no cérebro enegrecido da rapaziada
estouvada
e no meu
alma que vigia
a neve que rodopia no céu vermelho
a fechar olhos ao sol
que é de todos nós
poeira e terra na promessa que havemos de pagar
quando a terra nos comer
os sexos desfeitos
nas mãos descarnadas
meu amor
(uma carta acaba sempre assim)
a navegar em nau de fantasia
e esperança
e mete-se no correio
lida e relida
ainda digo
amo-te
hoje sim
amanhã não sei
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