sábado, 29 de junho de 2013

431. O BAZAR CHINÊS





a chuva escorre límpida nos beirados que o sol constrói na cidade     

transeuntes atropelam-se
fugitivos da vida com guarida nos subterrâneos iluminados de rostos doentios

o burgo fica deserto nas almas estranguladas das ruas alagadas
conspurcadas pelo fumo de intermináveis cigarros da angústia

o transporte para um outro mundo tarda
carris enferrujados dos sentidos execráveis
das sensações duvidosas de corpos alheados da emoção cristalina da generosidade

dois homens à porta da barbearia
os seus olhos directos 
absortos
nos anúncios pecaminosos dum bazar chinês
onde tudo se vende

vê-se que não pensam
porque se pensassem não estariam à porta
entrariam
e sentados no recolhimento dos cabelos espalhados pelo chão
meditariam numa existência similar a uma peruca
ligeiramente encaracolada
a enfeitar a boneca rosa oculta



Sem comentários:

Enviar um comentário