a chuva escorre límpida nos beirados que o sol constrói na cidade
transeuntes atropelam-se
fugitivos da vida com guarida nos subterrâneos iluminados de rostos doentios
o burgo fica deserto nas almas estranguladas das ruas alagadas
conspurcadas pelo fumo de intermináveis cigarros da angústia
o transporte para um outro mundo tarda
carris enferrujados dos sentidos execráveis
das sensações duvidosas de corpos alheados da emoção cristalina da generosidade
dois homens à porta da barbearia
os seus olhos directos
absortos
nos anúncios pecaminosos dum bazar chinês
onde tudo se vende
vê-se que não pensam
porque se pensassem não estariam à porta
entrariam
e sentados no recolhimento dos cabelos espalhados pelo chão
meditariam numa existência similar a uma peruca
ligeiramente encaracolada
a enfeitar a boneca rosa oculta
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