partira na direcção do leste
quando a lua se escondia no seio das fragas
aves começaram a acordar no espaço surdo
como se a escuridão da noite tivesse todas as portas do beijo e da paixão encerradas
debruçou-se no seu próprio corpo
do mesmo modo que se curva nas nuvens floridas quem nasce para amar
olhou as palmeiras com um pássaro verde e azul na cabeça
a semente do homem espalhara-se chegara aos corredores vazios
o mistério da sua fuga nunca seria desvendado
pequena porta de cave ecoava num sonho avermelhado
a pele gelada as mãos frias de vento de outono
os degraus exaustos com a luz do sol apagada
um jardineiro de papel à entrada dava a ideia de ausência glacial
gravatas e sobretudos cresciam nos cantos em vasos de plantas inventadas
um coxo debruça-se na máquina de fazer cigarros cumprimenta-a e despede-se até mais logo
as mulheres seminuas absortas na concentração vítrea do lucro tremiam
a noite a retinir semeava o mar de navios e de fantasmas
uma-oitava-acima cantava o desamparo de corsários ébrios
ia de novo evadir-se do cárcere desgastado
mas a porta escancarada com as goelas a espreitar
tamponou o tempo
que só fora dela existia
a taça orgíaca numa mão
uma mulher orvalhada na outra
e a acidez da agonia a corroer-lhe o coração
aproado à volúpia do rumor
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