sábado, 29 de junho de 2013

438. PORQUE EXISTO?





cada noite é uma tortura ou um êxtase     náusea ou alegria de viver
porque existo?
existem flores nos prados quentes e muros que dividem desejos na areia ardente da tarde
o relógio não para     envelhece repentino às portas da morte
dêem-me música e um corpo vermelho mudo de gestos e palavras     um jardim oriental e um caderno com riscas e pautas     um caderno musical
uma valsa     a fanfarra do destino intocável no rápido acesso à eternidade silenciosa     melodia tocada a medo por dedos gangrenosos que se quer magnífica e esplendorosa como as túlipas nos canteiros de vidro
existo só     triste e corajosamente só como a polar
as conversas doentias do café da esquina são suportáveis durante o tempo em que a ampulheta vazia se esvazia nas bocas imundas dos conversadores     apenas
depois há que retornar às pedras frias da cobertura ao silêncio dos telhados inundados de antenas exóticas     aos pombos a desembarcar no terraço e ao deserto das folhas que se soltam dos braços inertes das árvores gigantes que ninguém vê
e porque as vejo sei que existo e existo para as ver
se tivesse fé não as veria como vejo     veria cristo     mas cristo não é uma árvore enredada em magnífica sombra cristo é só cristo e nada mais


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