para além destas paredes é tudo tão visível tão claro tão sensível passamos através delas para penetrar na praça sórdida onde habitam os pombos da mendicidade os mortos-vivos fosforescentes
cidade ensandecida
vivemos no ventre dos nossos pressentimentos sem razão
e há o terraço sobre o tejo onde nos apoiamos para ver as caravelas do mofo capitaneadas por velhos negreiros pardos
e há esta pressa absurda de fazer coisas
acendemos uma vela para afugentar a escuridade
mais logo o dia despertará pleno de semblantes cansados
mas sempre esta vontade de viver em tempo de amor escasso
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