a lua
foi condenada
à solidão
abandonada
só os amantes
lhe estendem a mão
*
na tarde fria
quem me dera
ora
quem me dera
que me fizessem suar
*
chuva de verão –
alegria dos cachos
pendentes
tristeza de meu coração
indiferente ao tempo
*
nem sempre as flores
brotam onde possam ser contempladas –
algumas esquecem-se de si
*
o outono molhado
cheira nos pinhais
à canela dos teus olhos
*
quero o meu túmulo
virado a nascente
para que o sol me aqueça
diariamente
para todo o sempre
*
o mundo enfeitiçou-me
tu enfeitiçaste-me –
já não sou eu
sou um objecto
teu
*
uma gaivota plana
um cão corre no areal –
serenidade à beira-mar
*
um relâmpago
no céu
ilumina o paraíso
*
o búzio
de tanto escutar o mar
não cessa de o cantar
*
uma aranha ágil
enreda as moscas na teia
como quem ama
*
pardal e rouxinol
no mesmo galho florido –
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