quarta-feira, 19 de junho de 2013

209. IDALINA





de seu nome idalina 
viera para a capital servir 
vistosa 
sorriso brilhante 
olhos meigos de corça
a fazer embicar apetites nos dias insípidos 
de vida descolorida misérrima a flutuar na profundidade do abismo

o mesmo de sempre
café com leite a escorrer nas canalizações adelgaçadas dos patrões     o pão com doce e mel o almoço o lanche dos meninos joão o franzino maria a estouvada elizabete a ajuizada (como a rainha) a ceia o chá do adormecer
os babetes de cuspo os raspanetes da madame emproada em sub-rogação do garnisé e o balbuciar do patrão primeiro caixeiro de roupa interior numa loja do chiado
os pratos compostos e sem compostura gordurosos por lavar     a roupa das camas por engomar o pó por limpar
trabalho povoado de murmúrios obscenos e por meia dúzia de moedas     carago
conheceu-o     ele um pintas azeiteiro todo catita à porta do baile de domingo no lumiar
olá menina     ela sorriu-lhe
apaixonada de fome canina
tanto bastou
o corpo nos pratos sujos do desejo e das perversões
clientes a cheirar a cais odor de cabos de atracação com alcatrão a roçar os fios dos sovacos
a render e à disposição
do pagamento 
a dividir



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