segunda-feira, 2 de junho de 2014

658. O FIO DE ORVALHO




um estranho ritmo governava-o desde a juventude
ainda tenra criancinha já os vermes das máculas vermelhas dos mortos o perseguiam

no quintal da casa de granito as laranjeiras em flor
e o banco onde se sentara arfando quando ainda cria nas recompensas do além
repousando na primavera tardia

aprendeu a linguagem subversiva das noites de insónia
nos fogosos cavalos pardos da aurora
no longínquo fluxo e refluxo das águas que junto à costa alcantilada tremiam de frio

tinha a natural dificuldade em esquecer a manhã gloriosa
que passara na ribeira onde as flores tombadas viviam flutuando

tecera a fogo a canção das loucuras naquele terrífico espectáculo das noites escuras que tremulavam na eira à sombra da via láctea 
ancestral laje granítica vibrada a violentos golpes de mangual 

o circo     ah o circo das terras do norte
saltimbancos coloridos em país estranho com a marca do poder de deus nas testas luzidias dos tormentos
estranhas eram as tatuagens nos calcanhares

na azáfama da vida subiam verdes ramos de amores ao coração do velho carvalho
suspiros     gemidos     langores

tempo afinal preso por fino fio de orvalho





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