domingo, 26 de outubro de 2014

912. CRESCI ENTRE A SERRA E O MAR



de pequenino longe das montanhas que hoje vejo são tão poucas as lembranças      
recalquei sublimei substituí pelo vazio inócuo as memórias da cidade        
desta restou-me o rio com as suas asas de cristal erguidas na barra      a mesma fome e sede de mar      terras do além-oceano com as suas árvores gigantes pássaros exóticos no sorriso amplo de longínquos habitantes coloridos

neste vale que agora se corrompe por míseras trinta moedas vagueava o rapazito de calções à chuva ao vento ao sol e aquelas dores de cabeça horríveis e constantes como tições acesos no crânio      a habituação a algumas provações e sofrimentos por amor ao calvário      alegria dos caminhos sinuosos de pinheirais dos vinhedos em flor das cestas de vime no ribeiro a caçar cabeçudos

na cidade a fronte baixa voltada para a calçada calcária numa angústia profunda e aquela tristeza que só a tem o sol poente

cresci entre a serra e o mar numa vida vária        ergui castelos ao luar      segui o rastro das estrelas inocente tal rei mago em demanda do salvador        amei pobres e tresloucados os que sofrem isentos de pecado      fugi dos desalmados das crianças que são cruéis e dos adultos desleais como cardeiros e silvados 
amei e fui amado e odiado
vivia o dia
das plantas
dos animais
o agora que nascia
a cada segundo
numa emoção tão forte
que deixava vencida
toda a morte
porque morria
a cada instante e
a cada momento
renascia
sempre um novo
josé maria





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