domingo, 16 de junho de 2013

86. O TEMPO CESSOU NO ENFORCADO





o homem caminhava na margem
fria do rio colorido pelas penas
das migrantes aves selvagens

carregava consigo o fardo de séculos
de ossos perfumados pela fútil agitação
de conversações anacrónicas

ao norte as montanhas
eram tensão e luta
com pensamentos a resvalar nos rochedos

os campos brilhavam
o sol espreitava por toda a parte
as sombras desapareciam

havia vida nas gotas de orvalho
em todos os movimentos da brisa
até na mais pequena das plantas

o homem parou
um tronco de figueira estéril
uma corda antiga
entrançada à mão
na pérfida angústia dos dias

tudo findou
o próprio dia morreu
na asfixia do ar paralisado
ninguém o chorou
e com naturalidade 



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