o homem caminhava na margem
fria do rio colorido pelas penas
das migrantes aves selvagens
carregava consigo o fardo de séculos
de ossos perfumados pela fútil agitação
de conversações anacrónicas
ao norte as montanhas
eram tensão e luta
com pensamentos a resvalar nos rochedos
os campos brilhavam
o sol espreitava por toda a parte
as sombras desapareciam
havia vida nas gotas de orvalho
em todos os movimentos da brisa
até na mais pequena das plantas
o homem parou
um tronco de figueira estéril
uma corda antiga
entrançada à mão
na pérfida angústia dos dias
tudo findou
o próprio dia morreu
na asfixia do ar paralisado
ninguém o chorou
e com naturalidade
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