domingo, 26 de outubro de 2014

910. BUSCO A MINHA ALMA



a porta da frente não se acredita em deus        é domingo e a torre geme a sua glória às mãos virtuosas do chucho
som de sinos por capar

sentido da vida
conhecê-lo glorificá-lo porque nos criou
para nós ou para ele pergunto-me

o padre está à missa      os homens entram pela porta dianteira      as mulheres pela traseira      é um fedelho arrogante desconchavado e ignorante        imagem real da igreja decadente
num dos bancos da frente as mulheres cantam esganiçadas ao gesto descompassado do garoto de preto        velhas viúvas pedem perdão as solteiras casamento e as casadas o que calhar
beatice        ratas de sacristia
camisas brancas à noite sujas ao nascer do dia

sonho
justiça para sempre        paz eterna        beatitude sem fim

já só busco a minha alma

não assim

acordo ao grito do zé panelo      quero pito carago      na casa ao lado a graça não lho dá      cosa-se o homem
afinal hoje é dia santo
paz à minha alma        e à dele
tende dó      deixai-me dormir
porque hoje é domingo





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