segunda-feira, 2 de junho de 2014

665. TEMPO DE MÍSCAROS




uma amante de água feita
raio em lascas que ilumina o ventre das trevas

a argamassa antiga cozida a cordel
a meus pés um papel desfolhado na insónia

hoje varre-se o céu     a lâmina invencível da espada aprisionada na teia do frio aéreo
etéreos são os gritos dos répteis que germinam nos bosques da fuga

tempo de míscaros     a cerimónia – paus afiados nas artérias azuis das manhãs de domingo

o veneno     sangue espargido pelos corpos adolescentes     cantares da madrugada 

as bandeiras agitam-se no precipício     mãos ao peito cruzadas
tossem que nem tísicos os cômoros na liberdade que se evapora das esquinas

as ruas enchem-se de feridas que não saram     apinhadas estão as chagas por cães lambidas

úlcera que se esvazia
o que é de uma importância vital para a poesia





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