segunda-feira, 2 de junho de 2014

634. CARIDADE




senhora        ofendi-vos sem nunca vos ter 
em bom ou mau momento querido ofender
amei-vos como quem só tem uma escolhida
mãe que no coração abriga filha amada

nunca quis para vós nada 
que vos não desse prazer
insónia do desejo de vos ter
alma em pranto ansiada 

a cada dia me lembro de vós
de vossos olhos cabelos dedos
gestos dóceis maviosa voz
coração alimentado a medos 

e junto ao rasgado peito
com muito aperto vos guardo
e com desassossego espreito
o que fazeis e tendes feito  

só deus sabe como me sinto imperfeito
sonhador que solitário morre à beira-mar
como um triste mendigo que por leito
tem rochas areia e cardos banhados a luar

pedindo à morte por caridade um lugar 
onde só eu eternamente vos possa amar





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