quarta-feira, 14 de agosto de 2013

522. ÚLTIMA PARAGEM





nem um veleiro no tejo da minha puerícia ainda surda ao chamamento das ninfas submersas em coifas

um edifício debruça-se nas águas sonolentas da baixa-mar
o fedor da vazante a imundície que vem de montante

um cargueiro apresta-se para sair a foz
onde aportará que estiva no coração do porão?
choram águas na proa insensitiva     maresia da dor

próxima paragem     algés     um circo à beira-rio os animais de outrora     saudade a arrastar pela crista das pequenas vagas do areal     os carneirinhos prenunciam aguaceiro 

rodados de todas medidas     alguns soldados na berma à sombra de uma obra estupidamente moderna    
as ruínas da velha casa

longínquo o cristo-rei     ausente com a cidade por abraçar
em puro gemido se eleva     
sacramento     falsidade     santidade pecaminosa 
gente que mente

a crise ensandeceu estes homenzinhos sem futuro



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