quarta-feira, 14 de agosto de 2013

503. DIÁRIO





a brevidade da vida estampada nos ponteiros do relógio     

o sentimento lúgubre da aproximação da morte nos passos do coveiro
cedros que se achegam ao olhar turvo da idade      

um diário a arruinar-se na noite profunda

um diário é como a filosofia 
subsiste porque a morte existe

perdurará cavalgando-a
subsistirá nela     não  na morte iminente 
a que irrompe num lampejo na sequência dos dias     sobranceados pelo enfado 
mas a que nasce do apelo inaudível do vazio existencial

um diário em fragmentos é um verdadeiro aborrecimento que ninguém se dá ao transtorno de ler
gazeta de promiscuidade intelectual 
questão de pouca monta
     
poema de circunstância dito em conjuntura garrida e domingueira
simbolismo     realismo     surrealismo     promessas por decifrar 
sentido aparente     palavras improfícuas     masturbações (para não dizer punhetas) 
mentais     
cuas africanas atoladas na selva impermeável
clamores obstinados de régulos apeados 
algo que pouco importa ao amontoado impiedoso da ralé
populacho entorpecido pela propaganda de canapés ortopédicos

abdico de o escrever como delineado
que nele fiquem as estilhas     apenas as lascas
  
os estilhaços pertencem-nos rasgam-nos a carne integram a nossa interioridade mais profunda sangram-nos as emoções
mergulham no abismo da alma decrépita 
ferrugem obsoleta dos dias 
não são passíveis de censura
somos nós os delinquentes e os julgadores dos delitos da vida 
sem que nada haja para julgar censurar ou expurgar

são tão-somente o que são e o que é nada mais é para além do seu ser 
da sua íntima essência
apenas ápices     como um ornato 
que se usa em dia de gozo de romagem
diário da hipocrisia circunscrito ao poema

amálgama intrincada de letras

seja esse o nosso lema
nosso desgostoso emblema
má prosa     pior poesia


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