sábado, 29 de junho de 2013

490. À FLORBELA ESPANCA








à florbela espanca


chove
é outono
os campos tingem-se de canela

uma fotografia
antiga
a sépia do tempo
a dela

nunca te vi
não te conheci
apenas o que escreveste
ávido li

e voltei a ler
(quantas vezes te reli)
e a cada nova leitura
no medo da noite profunda e escura
adormeci em tua alma rubra
com vívida fotografia
a meu lado deitada

nasci
não recordo

tu morreste
antes de eu ser gente

agora
olho-te
a face branca
olhar penetrante
o colar pendente
a fina mão 
em macia invocação
súplica
de coração em chama
lábios doados
à paixão
em vida ausente

como te quero
alma que meu peito encerra
em túmulo eterno
diz-me de tua voz
que o amor vivo
que ofereces
tão real tão ardente
a mim me pertence

como te quis como te quero

nos dias em que a dor me fustiga
sinto a tua presença
e almejo amada
um amor divino
tão forte como a própria morte
e se porventura acharem que louco estou
de irremediável loucura
direi –
sim estou
louco de tanto te amar
louco de amor

olho-te com ternura
vivo em ti dentro de mim
apaixonadamente
e se alguém
alguma vez disser
que se não pode
que é impossível
amar assim tão perdidamente
morta que se não conhece
mente certamente
e se não mente




3 comentários:

  1. O amor presente sem fronteiras. De facto é mais forte que a morte. Adooooorei.

    Estou comovida

    Sandra

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  2. Ainda bem que gostaram.

    Eu também continuo a gostar - normalmente desapego-me do que escrevo, mas este poema é uma excepção...

    Abraço.

    JMA

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