sábado, 29 de junho de 2013

467. O EREMITA DO NINHO DAS ÁGUIAS





os seus passos caminhavam absortos no leito do rio reflectido nas luzes amarelas da avenida
perguntava-se
quem tem a natureza da suprema felicidade e a natureza feliz de todas as felicidades
a quem deveria render homenagem naquela hora de negro desespero

olhou-se no fato escarlate do desejo
fez circular o olhar graus de vertigem
apertou os dedos nas mãos ressequidas pela brisa marítima
deixou o coração de corda palpitar como brinquedo barato que pudesse levianamente desperdiçar

na visão de longínquos corpos que saíam de bares isentos de sémen
exasperou
iria continuar sozinho
oh ânsia de sexo

nascera homem na cal do dia enevoado
poderia ter nascido pedra cacto rato
mas nascera homem para adorar esfinges de pedra barrenta
sem ter a quem seguir
na rua escura com espectros de carne jovem não tinha a quem amar
nem mestre para ouvir dizer que ser feliz é atar um nagalho no sexo entupido
eliminando-o do quotidiano azedo
remetendo-o para os sonhos do sono quase profundo do decesso prematuro do prazer
enterrando-o na maré vazia de esperma estéril

regressou ao quarto das águas furtadas
seu pequeno mundo florido de quimeras ornado a melodias barrocas
mais certo do que nunca
seria para sempre o seu próprio mestre
o eremita do ninho das águias


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