sexta-feira, 28 de junho de 2013

429. CARTA DE AMOR





escrevo-te hoje 
esta carta de amor

poderia tê-la escrito há anos
ou no porvir 

ardem flores no olival
cai um santo do pedestal
(cai sempre um santo do altar quando um louco fala de amor)

passam garotos e remendões sem que saibam o que faço
eu também não     escrevo
são voltas do aparo no cérebro enegrecido da rapaziada
estouvada
e no meu

alma que vigia
a neve que rodopia no céu vermelho
a fechar olhos ao sol
que é de todos nós
poeira e terra na promessa que havemos de pagar
quando a terra nos comer
os sexos desfeitos
nas mãos descarnadas

meu amor
(uma carta acaba sempre assim)
a navegar em nau de fantasia
e esperança
e mete-se no correio
lida e relida

ainda digo

amo-te
hoje sim
amanhã não sei
(que hei-de eu saber do amanhã?)


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