sexta-feira, 28 de junho de 2013

401. PERDOA-ME





os teus olhos fulvos cor da baça pelagem disseram     afasta de mim esta morte anunciada     a violência     a escravidão 
não me mates

afasta de mim o cálice dos condenados     o fel
dá-me a tua mão     os teus dedos de amante as lágrimas que rolam na tua face
que se espalham pelo chão
não me mates     não sou simplesmente um animal     um cão     em verdade te digo
sou o teu melhor amigo      

não ouças os eunucos
os biocidas exterminadores
vê     sente     ouve
as minhas dores
mas
não me mates

deixa que a morte venha     não esta
quero a morte
a que mata o sofrimento
a nossa     a morte
o nada     o pleno
o fumo eterno
a morte que mata a morte
a que é forte como o amor
onde não há lamento ódio vingança
a nossa morte
a bem-aventurança

não     não te mato dessa morte humana de crueldade falsidade     morte desalmada

ouve
força de vida
sopro da montanha –
para quem se arrasta
o pôr-se em pé basta

não     não te mato

e se à palavra dada faltar
que seja eu o primeiro a morrer

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e se te matei
por não suportar
por tanto te ver sofrer
mesmo assim
deveria ter sido eu
o primeiro a morrer




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