sexta-feira, 28 de junho de 2013

390. MEIA-VIDA EM MEIA-NOITE VIVIDA





o crepúsculo venceu a aurora
depois do mistério da noite 
ter consumido meia-vida
em meia-noite vivida

o medo ergueu-se com a alba
para que ela o pudesse contemplar 
na sua forma divina e etérea

loira serpente das profundezas do desejo 

a senhora da noite obscura 
é minha  temida paixão
luminosa estrela de braços esplendorosos
meia-noite
meia-vida
meia existência perdida

a sombra explode em rosas luminosas
florescem os seios da manhã a amamentar lírios
no mar azul-celeste de espuma ígnea 
jardins suspensos rejubilam 
ao marulhar de rochedos disformes

um espectro diáfano perfila-se
imagem sacra de pedra
guardiã dos portais de catedral 
de papel de seda rosa
enquanto o sol dói ao nascer 

no dia sombrio um rio espelhado 
percorre as margens do cérebro
o mistério escorre langoroso 
pela ponta dos compridos dedos 
da noite anunciada
a montanha é um beijo áspero rude exacto
e o lago acetinado acaricia melancolicamente o afogado
no casamento da alegria com a dor
da vida com a morte
celebrado no campanário do crepúsculo 
à vista dos dons de misericórdia
do inferno dos céus
fim da avenida do enforcado

a noite veste-se de luar depois do dia se desnudar
um mundo magoado enraíza-se entre blocos de granito cinza
o vento brame
a noite em êxtase
as trevas balbuciam orgasmos nas copas virgens dos pinheiros embrumados
o vento
gemente
chora lágrimas de folhas secas
de gente
rasga o peito das sombras com o espinho da solidão
num corpo de mulher enevoada

meia-noite
meia-vida
meia existência despedaçada


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