o crepúsculo venceu a aurora
depois do mistério da noite
ter consumido meia-vida
em meia-noite vivida
o medo ergueu-se com a alba
para que ela o pudesse contemplar
na sua forma divina e etérea
loira serpente das profundezas do desejo
a senhora da noite obscura
é minha temida paixão
luminosa estrela de braços esplendorosos
meia-noite
meia-vida
meia existência perdida
a sombra explode em rosas luminosas
florescem os seios da manhã a amamentar lírios
no mar azul-celeste de espuma ígnea
jardins suspensos rejubilam
ao marulhar de rochedos disformes
um espectro diáfano perfila-se
imagem sacra de pedra
guardiã dos portais de catedral
de papel de seda rosa
enquanto o sol dói ao nascer
no dia sombrio um rio espelhado
percorre as margens do cérebro
o mistério escorre langoroso
pela ponta dos compridos dedos
da noite anunciada
a montanha é um beijo áspero rude exacto
e o lago acetinado acaricia melancolicamente o afogado
no casamento da alegria com a dor
da vida com a morte
celebrado no campanário do crepúsculo
à vista dos dons de misericórdia
do inferno dos céus
fim da avenida do enforcado
a noite veste-se de luar depois do dia se desnudar
um mundo magoado enraíza-se entre blocos de granito cinza
o vento brame
a noite em êxtase
as trevas balbuciam orgasmos nas copas virgens dos pinheiros embrumados
o vento
gemente
chora lágrimas de folhas secas
de gente
rasga o peito das sombras com o espinho da solidão
num corpo de mulher enevoada
meia-noite
meia-vida
Sem comentários:
Enviar um comentário