o pastor mirava atónito o cintilar da estrela da manhã
os chocalhos irrompiam pelo renque de pinheiros montanheses vergados à violência das neves invernais no esplendor do desassossego íntimo da natureza inóspita
o céu atraía o movimento violeta dos olhos de prata e das brisas de caminhos sem retorno
anos de transumância de noites dormidas ao luar que nunca foi mais do que luar porque se fosse mais do que luar já não seria luar e seria certamente diferente
história simples da simplicidade agasalhada num capote de palha entrançada sem cama sem avidez com sonhos de calor mutilados por mãos descobertas orvalhadas gélidas mãos doridas rasgadas por cicatrizes de amor olvidado
à frente um dos cães na vegetação solene e rasteira ordenava o rebanho na demanda da erva fresca do planalto do cabo do mundo daí poderia cair-se no último dos abismos a partir dali o desconhecido sem espectros abantesmas ou delírios
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