segunda-feira, 24 de junho de 2013

316. JÁ PENSEI QUASE TUDO O QUE HÁ PARA PENSAR





já pensei quase tudo o que há para pensar
parece-me
apesar do que parece
nem sempre 
ser o que parece

poderei ou não estar errado
como tudo 
numa vida inconsistente
na impermanência dos dias consumidos
como quem consome sem saborear um cigarro 
de fumo invisível
ou viaja junto ao mar encapelado e apenas espreita a estrada suja de asfalto

afinal o pensamento não é ilimitado
e a imaginação é o erro do desesperado


pensei o já pensado
em caminho poento
por muitos trilhado
rasto de sangue vivo

o pensamento é dor acutilante pressiva
é a enxovia torturante da inocência
da candidez e da castidade 


pensei o que muitos outros pensaram
mas poucos são o que o sabem
por terem guardado esses pensamentos numa gaveta sem fundo
na torre subterrânea dos desejos inconscientes
nas masmorras abissais das entranhas sórdidas 
no espaço insignificante de seus bolsos rotos 

pensei e penso que não vale a pena escrever
que não me irão ler
que não irão ter paciência

livros há-os em demasia
como riqueza e pobreza
editados dia-a-dia

neste mundo tudo é demais
por excesso ou insuficiência


no entanto
a questão de deus
o deus verdadeiro que não o dos homens
continua a ser pendência fulcral 
quando eu 
eu mesmo 
deveria o objecto 
selecto de minhas inquietações


quem sou
donde venho
para onde vou

se sou ou não
se vim ou não vim
se vou ou não vou

se ele é
se eu sou ele
ou ele eu

se existimos
ou não existimos
por ludibriados sermos

se tudo é ilusão
o sonho realidade 
a realidade sonho e

no desvario do engano
se embromado estou
porque padeço atroz  

e porque algo permanece
em vez do nada
desse vazio pacificador

e se nada existisse que voz se levantaria a questionar que corpo ou mente sentiria dor 


também a questão da alma
merece especulação
e se quem conhece a alma 
conhece deus
fico-me com um único mistério
o da alma-deus ou o de deus-alma

tanto faz
se o que penso só serve
para alimentar a confusão
e o que escrevo 
não passa de incoerência
ou de pura ilusão
de quem pensa ser e não é

melhor seria
exterminar o desassossego




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