já pensei quase tudo o que há para pensar
parece-me
apesar do que parece
nem sempre
ser o que parece
poderei ou não estar errado
como tudo
numa vida inconsistente
na impermanência dos dias consumidos
como quem consome sem saborear um cigarro
de fumo invisível
ou viaja junto ao mar encapelado e apenas espreita a estrada suja de asfalto
afinal o pensamento não é ilimitado
e a imaginação é o erro do desesperado
pensei o já pensado
em caminho poento
por muitos trilhado
rasto de sangue vivo
o pensamento é dor acutilante pressiva
é a enxovia torturante da inocência
da candidez e da castidade
pensei o que muitos outros pensaram
mas poucos são o que o sabem
por terem guardado esses pensamentos numa gaveta sem fundo
na torre subterrânea dos desejos inconscientes
nas masmorras abissais das entranhas sórdidas
no espaço insignificante de seus bolsos rotos
pensei e penso que não vale a pena escrever
que não me irão ler
que não irão ter paciência
livros há-os em demasia
como riqueza e pobreza
editados dia-a-dia
neste mundo tudo é demais
por excesso ou insuficiência
no entanto
a questão de deus
o deus verdadeiro que não o dos homens
continua a ser pendência fulcral
quando eu
eu mesmo
deveria o objecto
selecto de minhas inquietações
quem sou
donde venho
para onde vou
se sou ou não
se vim ou não vim
se vou ou não vou
se ele é
se eu sou ele
ou ele eu
se existimos
ou não existimos
por ludibriados sermos
se tudo é ilusão
o sonho realidade
a realidade sonho e
no desvario do engano
se embromado estou
porque padeço atroz
e porque algo permanece
em vez do nada
desse vazio pacificador
e se nada existisse que voz se levantaria a questionar que corpo ou mente sentiria dor
também a questão da alma
merece especulação
e se quem conhece a alma
conhece deus
fico-me com um único mistério
o da alma-deus ou o de deus-alma
tanto faz
se o que penso só serve
para alimentar a confusão
e o que escrevo
não passa de incoerência
ou de pura ilusão
de quem pensa ser e não é
melhor seria
exterminar o desassossego
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