domingo, 23 de junho de 2013

263. EMBRUXADO





antes queria estar altivo 
no alto     na serra 
esquadrinhar a terra 
falar de bichos aos bichos 
beijar as árvores as faias 
sentir as nuvens no rosto 
pisar os cachos fazer mosto 

uma só erva     uma só 
contém o amor e a verdade 
da humanidade inteira 
e as pedras como são belas
apaixonei-me por vós 
e com que ardor força 
tensão íntima a ganhar volume 
intensidade gozo e vaidade

disse ao milhafre o que não vos posso dizer 
ciúme de pobre mortal acorrentado ao chão

ao rebanho para repousar na sombra do castanheiro 
não vá o sol ensandecer

e ao pastor que toque a flauta 
sempre sempre que quero adormecer

a melodia ouve-se ao longe a perder de vista 
a vista também ouve e o ouvido vê

a gente foge do medo mas volta ao entardecer
não vá a noite levar-nos em desditosa aventura

misericórdia deus da montanha 
misericórdia e piedade 
arrasta-me desta colina 
afugenta-me esta saudade

já não amo ninguém 
que dor e maldade para os animais de duas patas
nem sequer a santíssima trindade 
blasfémia tentação do demo
vá de retro satanás cruzes canhoto 
besta impaciente
que o menino está embruxado 



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