quarta-feira, 19 de junho de 2013

210. SENHOR VISCONDE DE ALPERCATAS





para além de tudo isto está a morte
senhor visconde de alpercatas
sabendo eu e o senhor
o senhor e eu
eu que sei ou que não sei se sei
e mesmo que saiba nada há que me garanta que o saber não sabe se sabe
da armada naufragada da barra
de que tanto nos fala
e das virtudes que à sua amada aponta
como diz repetidamente que a esposa estimada é de tal modo pura que se pode beber água pelo seu vaso avisado discreto e astuto
enquanto um turíbulo amestrado sem dono nem criado assa lento a carne viva da alvorada 

um carro cinzento atravessa sozinho a avenida alvoraçada
eu por dentro procuro cozer ou coser? ao tronco uma camisa por passar notando agora (o que muito ou pouco me preocupa) estar a ficar abdominoso
inquietação de velho mulherengo 
inclinação a pasto tenro presumivelmente negado

há velhas alisadas no passeio limado
e uma marreca a precisar de limão 
(de carpintaria ou de serralharia não do limoeiro)
e o condutor do carro cinzento
cospe no passeio o sabor amargo do vento sul
vendo o veículo a transcorrer
de vagina a amanhecer
amadurecida
de mão em mão
por onde se não pode beber senhor visconde
vossa contrariedade

e
senhor visconde veja
como o carro cinzento continua a cuspir no passeio o sabor a vento


http://www.homeoesp.org/livros_online.html



Sem comentários:

Enviar um comentário