terça-feira, 18 de junho de 2013

186. FOGO PRIMORDIAL





na caverna negra dos tempos arde o fogo primordial
sombras bailam nas rochas firmes como seios intocados 

dos veios subterrâneos corre o sémen do ser
prazer de sangue novo e quente recolhido no odor dos freixos
anseios doirados e incriados
do nada nascidos

a neve gela na floresta virginal
correm os lobos famintos
predadores da lascívia animal

o homem nu nas peles ocres do inverno
sonha com gazelas e veados
e na alma lisa de pedra por talhar
desenha o primeiro nu
sem tela 
sem sais de prata
nas pedras salpicadas de cores exaustas
sabendo que amar 
se inicia com um lânguido olhar 

desejo da carne
do coração primitivo
tão longínquo à razão

e anela
truta em pedra lavada pela torrente das sensações inexplicáveis
o corpo nu
que desde o alvorecer aguarda
o despertar de quem só ama e caça
num fogo que jamais se apaga


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