terça-feira, 18 de junho de 2013

171. QUARTOS DE DOR E MORTE





uma viagem por lisboa

a angústia de simples mortais enclausurada num transporte de multidão

uma viagem sem história

processionárias em fila interminável levantam a pata do verde velho cavalo branco de d. josé
uma mulher toca bombo num garoto

o grand voyager está ancorado em santa apolónia
o rio dorme a sesta
uma inglesa coxa corre no vermelho
por todo o lado contentores cheios de dúvidas e um comboio amarelo de icterícia sem locomotiva
o governo de portugal manobra um cacilheiro
passageiros     um marinheiro e um soldado

cartazes
descubra portugal um país que vale por mil
ossos saudáveis construem-se com muito cálcio
a luz que apaga o passar dos anos

meu pai na cama dum hospital de luxo
uma médica chinesa ou chinesa de macau explica o inelutável
julga que não confio em médicos
é bruxa adivinha
não confio em ninguém para além do vento crepuscular e da névoa que de manhã lava o convés das embarcações

da janela um pedaço de ponte suspende-se no horizonte
no quarto ao lado uma gralha
uma gaivota míope voa em círculos sobre os prédios riscados como bibes
há movimento
e há os pisos cheios de dor e morte


http://www.homeoesp.org/livros_online.html



Sem comentários:

Enviar um comentário