uma viagem por lisboa
a angústia de simples mortais enclausurada num transporte de multidão
uma viagem sem história
processionárias em fila interminável levantam a pata do verde velho cavalo branco de d. josé
uma mulher toca bombo num garoto
o grand voyager está ancorado em santa apolónia
o rio dorme a sesta
uma inglesa coxa corre no vermelho
por todo o lado contentores cheios de dúvidas e um comboio amarelo de icterícia sem locomotiva
o governo de portugal manobra um cacilheiro
passageiros um marinheiro e um soldado
cartazes
descubra portugal um país que vale por mil
ossos saudáveis construem-se com muito cálcio
a luz que apaga o passar dos anos
meu pai na cama dum hospital de luxo
uma médica chinesa ou chinesa de macau explica o inelutável
julga que não confio em médicos
é bruxa adivinha
não confio em ninguém para além do vento crepuscular e da névoa que de manhã lava o convés das embarcações
da janela um pedaço de ponte suspende-se no horizonte
no quarto ao lado uma gralha
uma gaivota míope voa em círculos sobre os prédios riscados como bibes
há movimento
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